Lé com Cré

"Inclusão digital". Já faz um tempo que esta frase tem se tornado evidente pelo país. Hoje quase todos os brasileiros tem acesso a internet e aos programas televisivos. Recebemos, a cada dia, milhares de informações pelos telejornais e programas de TV.
Podemos viajar pelo mundo, apenas ligando a televisão e colocando na novela que foi gravada na Índia, Itália, Grécia, etc. Mas será que esta chuva de informações, que não é filtrada e apurada pelo público, apenas absorvida, é de fato boa à sociedade?
Vygotsky, referindo-se ao indivíduo/sociedade, disse em uma de suas teses que as características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do indivíduo. Elas resultam da interação dialética do homem e seu meio sócio-cultural. E sendo o homem parte deste meio, é capaz de transformá-lo pelo seu próprio comportamento. 
Temos exemplos destas influências em nossa história, como Luís Carlos Prestes e Olga Benário que, lutando pelo melhor, tiveram grandes perdas (Olga perdeu a própria vida).


Mas e quanto a esta geração? O que aconteceu  com ela?

O capitalismo se tornou o sistema econômico que dominou o mundo. Segundo Karl Marx, a classe dominante eram os burgueses e os dominados, o proletariado (ou trabalhadores). Observando o contexto histórico, o proletariado não possuía chances de ter acesso às informações que os burgueses possuíam. Porém, com o tempo isso foi mudando. A educação se tornou um direito estando  ao alcance dos menos favorecidos. O capitalismo reconheceu a liberdade e o direito a propriedade. E quanto ao lucro por trás destes direitos? As pessoas começaram a ser induzidas ao consumo, mas era necessário sair de casa para que estas tentativas capitalistas chegassem até elas.
Em meados do século XX, com o desenvolvimento tecnológico, aparelhos de rádio e televisores, a indução ao consumo passou a ser feito dentro dos lares, nos centros familiares. A mídia serve aos interesses do capital, de modo que as mensagens passadas através destes aparelhos tornaram-se o principal assunto das conversas, em grupos de todas as idades, refletindo a influência destas nas pessoas.  
A partir disto, percebe-se como conceitos foram incutidos nas mentes,  construindo-os culturalmente ao longo do processo de desenvolvimento  da nossa sociedade, tornando a realidade algo único para todos.
É fácil assistir uma notícia em um telejornal e aceitá-la como real. Nunca paramos para perguntar "Será que é mesmo isto? O que verdadeiramente está por trás da história? Qual é o contexto?".
Acompanhando-se os acontecimentos relacionados à queda de Kadhafi pela Rede Globo de televisão, por exemplo, temos a ideia de que ele foi para a Líbia um grande empecilho. É aí que nos enganamos, de certa forma. Pesquisando sobre a sua história (e a da Líbia, concomitantemente), conseguimos ver, apesar da ditadura, um perfil nacionalista, anti-imperialista e conservador na sua política. O IDH da Líbia seguiu por alguns anos sendo o mais alto da África, a taxa de analfabetismo foi reduzida de mais de 90% (antes de Kadhafi assumir o posto de ditador) para menos de 14% (2010, ainda sob sua administração). Ele também nacionalizou, ainda no século passado, transnacionais britânicas e estadounidenses que tinham nas mãos os abundantes recursos naturais líbios (começando aí, talvez, os maiores dos seus problemas).  Mas Muammar Kadhafi não criou medidas que abrissem a porta à participação popular, o que serviu como desculpa para que as nações imperialistas o tirassem do poder "escondendo" seus reais interesses. Desesperadas e procurando por fontes alternativas de poder, os grandes nações capitalistas, hoje em grave crise financeira, começarão uma briga pelos recursos naturais dos quais a Líbia dispõe, deixando clara a verdadeira intenção dos subsídios que fizeram aos ataques ao perecido ditador. Como pode-se perceber, o assunto é passível de discussões, mas a mídia leva às pessoas "opiniões formadas", e as pessoas as aceitam como se fossem suas, mesmo sem se dar conta disso. 

As novelas determinam o que é bom, o que é mau. O que é feito e mostrado nas novelas é o que todos devem (e querem) fazer e aceitar. É o normal, é o aceito pela sociedade. As músicas desmoralizam o ser humano, fazendo a grande massa da sociedade (aquela moldável e sem questionamentos a fazer) a aceitar a realidade como ela é passada e cantada.
É mais fácil, ao morador da comunidade, colocar o filho para a escola apenas para ganhar míseros trocados do governo e se manter naquela situação, passando o conformismo para as próximas gerações, alimentando conceitos de indivíduos que só pensam neles mesmos, ignorando o bem-estar do próximo e o meio ambiente em que ele vive.
Sendo a maioria assim, tão facilmente manipulada e com as idéias automaticamente formadas, a grande pergunta é: e se o país fosse politicamente oprimido de novo (como aconteceu na Ditadura Militar)? E se a liberdade de escolha política, de pensamentos e idéias, fosse vista como um crime? Quem se comprometeria? Quem lutaria?
É tempo de tentar mudar os erros da nossa sociedade, de lutar pelo bom, pelo justo e pelo melhor do mundo(BENÁRIO, Olga).  
Tendo em mãos nossas próprias dúvidas, devemos seguir em direção à verdade usando nossos próprios recursos de pesquisa e, mais importante que tudo, nossa própria mente para concluir e discernir a partir da nossa indagação o que nos for mais racional e plausível.


Juliana Santos nº19
Thiago Luiz n° 43

Bibliografia: 
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2007.
CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo, SP: Ed. brasiliense.
http://resistir.info/mur/libia_20out11.html

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